
Assim como nascem os anjos
das lágrimas de um filho teu
Da vida também nasce a morte
da morte quem surge sou eu
Do vale das sombras me ergo
nas noites frias me aqueço
No medo dos homens desperto
somente na fé adormeço
Descreva-me em tuas páginas
como um predador do pecado
Alimente-me do teu rebanho
daquele que for desgarrado
Pois sou o grito pagão
que rompe o silêncio da crença
O Senhor Criador e perdão
Eu criatura e sentença
A luz não se fez para todo
sentão ofereço-lhe as trevas
Aonde o que brilha somente
é a pálida chama das velas
Não tenho alma ou espírito
nem reflexo no teu espelho
Somente uma sombra ligada
aos pés do teu desespero
Não venho pedir piedade
na falsa linguagem dos homens
Pois um dia também fui teu filho,
mas hoje nem lembras meu nome.
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